
Nove fabricantes multinacionais faturam US$ 8,9 bilhões em vendas no País e não concorrem entre si
A aplicação de defensivos no campo carece de uma série de cuidados de segurança
Foi mais de 1 milhão de toneladas de agrotóxicos nas lavouras agrícolas do Brasil na safra 2011/2012, uma boa parte com uso proibido nos Estados Unidos e nos países da União Europeia. Outra parte proibida aqui mesmo, dependendo da cultura em que seja aplicado. Para os fabricantes desses produtos químicos, isso representou um faturamento de US$ 8,9 bilhões somente no Brasil em 2011- em 2000 foi de US$ 2,5 bilhões, tornando o mercado da produção/comércio de veneno um dos mais rentáveis do Brasil. A falta de informação e fiscalização faz com que, em muitos campos agrícolas, o próprio comerciante indique e receite qual veneno o agricultor deve usar. A venda compete diretamente com os riscos.
O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Agronegócio (5,73% em 2011) e da participação deste no PIB nacional comprovam a importância do setor que, para produzir, precisa dos agrotóxicos. O setor da agricultura teve alta de 5,57%, conforme o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo (USP).
O que espanta muitos especialistas é a intensidade no uso dos produtos químicos. Em 2002, oBrasil

Um exemplo se dá na Região Jaguaribana, no Ceará. Um dos maiores polos fruticultores do Nordeste, há sete anos, é objeto de estudos científicos nas mais diversas vertentes sobre o impacto dos agrotóxicos – social, ambiental, econômico e na saúde humana. Um deles é o Inventário do Veneno, coordenado pelo engenheiro químico Rivelino Cavalcante, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC). De acordo com o levantamento, dos 207 diferentes produtos químicos para defender a lavoura, 48% estão nas classes toxicológicas I e II, ou seja, extremamente tóxico e muito tóxico, respectivamente.
Vários fatores contribuem para o crescimento no uso de agrotóxicos, como o aumento do crédito agrícola, facilitando a compra de produtos cada vez ms potentes, e mesmo a isenção fiscal (alguns agrotóxicos têm 60% de isenção de ICMS). Os agrotóxicos ficaram isentos de cobrança de ICMS no Ceará desde um decreto do Governo do Estado, em 1997.
Mas a dependência do produto pela cultura é outro mantenedor de sua aquisição. É o caso do glifosato, cuja demanda é cada vez maior, sobretudo nas lavouras de soja transgênica no Estado de Mato Grosso. Trocando em miúdos, a lavoura mantém dependência do veneno quanto mais ele é utilizado.
Oligopólio
As 11 maiores empresas mundiais detêm 90% do mercado no Planeta e praticamente todo o mercado brasileiro. Essas fabricantes praticamente não concorrem entre si, cada uma com uma variedade de ingredientes ativos para combater uma cultura diferente, num evidente caso de oligopólio.
Embora represente apenas 4% da área agrícola cultivada entre os 20 maiores países agrícolas, oBrasil

Para conter o que chamam de “movimentos ideológicos contrários ao desenvolvimento”, os fabricantes apostam na legislação a seu favor, tornando-se os principais doadores de campanhas de muitos deputados estaduais e federais, boa parte dos quais participou da elaboração do novo Código Florestal Brasileiro.
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Em outra frente, os fabricantes mundiais de veneno fazem parcerias com ONGs

A Fundação Monsanto, por exemplo, é responsável por um projeto de capacitação de professores no interior do Estado do Paraná. O trabalho é feito em parceria com a ONG Inmed Brasil

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“O alimento produzido com agrotóxico pode até ser considerado mais saudável do que os orgânicos (que não utilizam os produtos químicos)”, afirmou o engenheiro agrônomo José Francisco da Cunha, consultor da empresa Tec-Fértil.
O rápido crescimento e pujança dos fabricantes de veneno fez esse segmento econômico tão forte que o lobby, nas mais diversas formas, acaba prejudicando a informação sobre o uso mais correto (ou menos prejudicial) do veneno. O resultado é a aplicação de produtos em culturas para as quais ele não é orientado, a falta de obediência à carência entre uma aplicação e outra e uma medida ilegal e letal comum, tanto entre agricultores, quanto entre grandes empresas multinacionais: a produção de coquetéis (mistura de vários ingredientes ativos de herbicidas, fungicidas e inseticidas). Tudo para dar maior garantia de que a produção ficará livre de pragas.
Para conseguir o registro e colocar um produto no mercado (veja infográfico), o fabricante de veneno precisa de autorização dos três órgãos brasileiros responsáveis por regular o setor: Anvisa, Mapa e Ibama.
De acordo com os respectivos critérios de uso e indicação, existem cerca de 2.400 formulações de agrotóxicos registrados no Ministério da Saúde, Mapa e Ministério do Meio Ambiente, contendo cerca de 434 ingredientes ativos e o número pode aumentar nos próximos anos.
MELQUÍADES JÚNIOR
REPÓRTER
Fontes: Pratos Limpos , Diário do Nordeste, Nos Dias de Noé
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